Encurte as distancias!

 

Encurte as distancias!

 Boa parte das atividades
culturais e sociais (mesmo as autônomas e horizontais) de BH acontecem na
região central da cidade. Essa centralização enobrece o centro urbano ignorando
as regiões periféricas, onde geralmente moram maior numero de pessoas. Para
freqüentarem essas atividades, as pessoas se fazem dependentes de meios de
transporte para cruzarem a distancia entre suas casas e o centro urbano, com
carros, motos e ônibus.

 A maioria das pessoas que vemos
todos os dias nos centros urbanos, são moradores de periferia, ou seja, bairros
e favelas distantes do centro. Muitas delas tem que, todos os dias, cumprir sua
rotina de trabalho/estudos longe de casa. Dependem de ônibus ou carros para
isso.

 Dependentes de meios de
transporte extremamente poluentes, barulhentos, carros e perigosos.

 As atividades e a própria rotina
das pessoas são distanciadas de seus lares e isso é uma característica de
sociedades movidas por automóveis. Estes permitem nossa rotina a quilômetros de
casa, gastando horas por dia apenas com o trajeto de um ao outro.

 Longes de casa, de nossos
familiares e amigos de bairro. Pessoas com as quais tivemos grande proximidade,
com quem crescemos, mas que nos distanciamos pela rotina longe de casa. Nessa distante
rotina, passamos a criar laços com pessoas de longe, moradores de outros
bairros, unidos apenas pela rotina. Quando essa se quebrar, em muitos casos, quebra-se
também a relação com essas pessoas.

 Nas ruas dos centros, passamos a
ter contato com a massa de transeuntes e no meio da multidão, sentimos solidão.
Todos têm medo de todos.

 A atmosfera da cidade é depressiva.
Milhares de pessoas sozinhas na multidão; as massas se cruzam. Toques entre si
assustam. Esbarrões tornam-se motivo de rancor. Uns fechados na solidão do
automóvel. Outros, após a cansativa rotina, enfrentam o individualismo de massa
nas ruas e nos ônibus lotados.

 Há algum tempo, passei a observar
a vida das pessoas nos bairros e passei a questionar sobre as atividades
sociais das quais participo no centro de BH, a quem atingimos, quem tem acesso
a elas e a partir disso, quais são as possibilidades de articulação perto de
casa.

 Nos bairros ainda se vêem grupos
de amigos sentados, tranqüilos, conversando e fazendo nada junto. Algo raro nos
centros urbanos, onde o que impera é a correria e o stress.

 Nos bairros ainda existe a
possibilidade de uma vida mais próxima uns dos outros, de andarmos e ficarmos
junto de outras pessoas, de ter calma para fazer coisas sem a preocupação de
ter que ir embora “porque o ônibus para de passar”, de ter fácil acesso as
coisas que temos em casa;

 Nos bairros ou locais mais
próximos de onde moramos, a possibilidade de usarmos a bicicleta ou outros
meios alternativos de como meio principal é maior porque é menor a distancia a
ser percorrida e mesmo o transito tende a ser mais aliviado.

 Trazer de volta nossas atividades
para a proximidade de nosso lar é reduzir as distancias de nossas vidas,
permitir o fortalecimento de laços sociais e culturais com pessoas próximas. É
uma forma de ir contra a sociedade do automóvel, que aumentou as distancias e
nos tornou dependentes.

 E sem percebermos tudo isso,
passamos a achar o bairro chato.

 É comum essa afirmação, e que
nada acontece nele. Que só é possível encontrar situações interessantes em
outros lugares. Não penso que essa seja a saída. Prefiro acreditar e fazer de
minha vida algo interessante, divertido e emocionante, o tempo todo e em todo lugar
em que ela aconteça. Que ter dinheiro não seja crucial para isso. Que isso é
possível no bairro onde moro ou em qualquer outro lugar, e que para que isso
aconteça, depende de mim. E de todos. No Domingo Nove e Meia – Encontro Libertário
existe uma máxima que diz “Se está achando o evento chato a culpa é toda sua!”.
Ela quer dizer que se ele não o esta agradando, então o faça agradável! O
caráter do evento permite isso (pesquise sobre: www.d9meia.tk).

 Relaciono essa máxima a nossa
vida e a nossos espaços de convivência também, incluindo o bairro onde moramos.

 Realizar atividades sociais e
culturais na proximidade do lar é uma possibilidade interessante, já que possibilita
o aproveitamento das vantagens da proximidade existente nos bairros.

 Discussões podem ser travadas com
maior calma. O deslocamento para os locais de encontro pode ser feito com menos
tempo. Os horários podem ser feitos com maior flexibilidade. A própria
comunicação entre os envolvidos poderá ser feita com maiores possibilidades de
encontros pessoais, reduzindo a dependencia de meios de comunicação limitados
como telefone e saindo do mundo virtual da internet.

 Penso que a utilização do centro
urbano como local de encontro de minorias interessadas é melhor. Por exemplo,
montar um grupo de freegans no bairro de periferia seria muito mais difícil, já
que o tema é pouco difundido. O centro pode ser um ponto de encontro para
pessoas de vários bairros e pode facilitar a formação desse tipo de grupo. Nos
bairros talvez isso seja mais difícil, porem outras formas de articulação são
possíveis, talvez tomando por base a pluralidade de idéias e conceitos.

 Não quero com esse texto
descartar a possibilidade de articulação de movimentos e manifestações sociais
e culturais nos centros urbanos. Mas vejo como importante o encurtamento das
distancias em nossas vidas, de assim, nos tornar mais independentes e
dinâmicos, de (re)criar laços com pessoas que estão próximas de nos e com o
ambiente de nossos lares.

 Quero com esse texto contribuir
com a retomada dos rumos de nossas vidas por nós mesmos, de nos re-conectarmos
as nossas raízes culturais, para dessa forma, podermos transforma-las e
questiona-las. Contribuir com pessoas que também acreditam que o mundo pode ser
algo mais divertido, e que assim será somente se o fizermos. Dizer que tudo
isso só depende de nos mesmos e de nossas ações e relações.

Pense nisso!

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