Alguns dias de uma falsa alvorada
Um relato crítico sobre ocupação da reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais
– Parte 1 de 3 –
In one realm only are they free and there they may roam at will – but they have not yet learned how to take wing. So far there have been no dreams that have taken wing. Not one man has been born light enough, gay enough, to leave the earth!
[Apenas num reino eles são livres e lá podem perambular à vontade – mas ainda não aprenderam como levantar vôo. Por enquanto, não houve sonhos que levantaram vôo. Nenhum homem nasceu leve o bastante, descontraído o suficiente, para deixar a terra!]
(Henry Miller, Tropic of Cancer)
Ce que nous revendiquons en exigeant le pouvoir de la vie quotidienne contre le pouvoir hiérarchisé, c’est tout. Nous nous situons dans le conflit généralisé qui va de la querelle domestique à la guerre révolutionnaire, et nous avons misé sur la volonté de vivre. Cela signifie que nous devons survivre comme anti-survivants. Nous nous intéressons fondamentalement aux moments de jaillissement de la vie à travers la glaciation de la survie (que ces moments soient inconscients ou théorisés, historiques – comme la révolution – ou personnels).
[O que reivindicamos ao exigir o poder da vida cotidiana contra o poder hierarquizado: tudo. Situamo-nos no conflito generalizado que vai desde a querela doméstica até a guerra revolucionária, e apostamos na vontade de viver. Isso significa que devemos sobreviver como anti-sobreviventes. Estamos interessados fundamentalmente pelos momentos de rebento da vida atravessando a gelidez da sobrevivência (e esses momentos são inconscientes ou teorizados, históricos – como a revolução – ou pessoais).]
(Raoul Vaneigem, Banalités de Base)
E se queimássemos a UFMG???
(Escrito em faixa exposta como intervenção crítica à festa de posse de mais uma gestão da diretoria do DCE-UFMG, apropriação deturpada do enunciado “Et si on brûlait la Sorbonne?”, pichado por estudantes franceses em muro da Paris de 1968)
O objetivo desse registro é tornar real o exercício do que poucamente pôde ocorrer durante considerável parte dos eventos que tento reproduzir aqui, a partir dos testemunhos que eu mesmo pude fazer, testemunhos acima de tudo práticos. Ou seja, muito diferentemente dos critérios distanciados e congelados do jornalismo mercantil e dos cientificismos pretensamente tidos como a mão única do “verdadeiro” ou do “legítimo”, estarei me expressando durante a redação desse texto como atuante e observador simultâneos do que aqui re-montarei como momentos políticos, emocionais, sexuais, lúdicos, intelectuais, psicológicos, bio-físicos, existenciais, teórico-práticos, dentre várias outras definições para muito do que nossa condição de sobreviventes visa sempre a apagar violentamente, muito embora continuemos a ser tudo isso num só instante totalizado e dinâmico. Saltarei para alguns meses atrás (o que restou dele em mim e, quando acessível, no mundo) para, na amplitude do agora, fazer deles instrumento de reflexão e, talvez, ferramenta de propulsão de atos outros, possivelmente triunfais ou fracassados. Continue reading →